Ortopedista
Coordenador do
Grupo de Ortopedia
HPA Magazine 22 // 2024
A artroplastia do joelho, vulgo prótese total do joelho (PTJ), tem sido desde o início do Grupo de Ortopedia no HPA (GO HPA) um dos focos de maior especialização e investimento técnico e científico.
Em 2011, fomos pioneiros, e primeiros utilizadores nacionais, do sistema PSI (Pacient Specific Instrumentation), sistema em que para cada doente se produz um bloco de corte específico que se adapta ao seus fémur e tíbia, fruto de um planeamento que procura escolher o tamanho e a posição que melhor se adequa à sua anatomia, com o objetivo de otimizar a função e o resultado clínico. Desde então, passou a ser o procedimento de base, reservando-se a instrumentação convencional (IC), aquela que se usa na vasta maioria dos serviços nacionais, para os doentes em que a PSI não era possível ou indicada.
Há um ano, em abril de 2023, realizámos a primeira cirurgia com instrumentação robótica (IR) em Portugal, utilizando um robot que nos ajuda a escolher a posição e dimensão do implante que melhor se ajusta a cada joelho. Esta técnica tem em conta, não só a morfologia do osso (já oferecida também pela PSI) mas, também, todo o invólucro músculo ligamentar, tentando colocar o implante da forma que melhor se adapta a cada doente.
Esta evolução tem por objetivo a redução do nível de insatisfação dos doentes operados, que no joelho é relativamente elevado; superior ao observado nas próteses da anca. Concluindo-se que é muito mais fácil ter um doente satisfeito após uma artroplastia da anca do que após uma artroplastia do joelho.
A taxa de insatisfação após uma PTJ, na literatura publicada internacionalmente, ronda os 15 a 20%. Não significa que estejam pior do que antes da cirurgia, maioritariamente não estão, mas não estão tão bem quanto as suas expectativas ambicionavam.
Temos agora casuística para um primeiro balanço, ainda que preliminar, da utilização da cirurgia com IR (51 casos) por comparação com a IC e a PSI (respetivamente 277 e 499 casos).
Inquirimos os doentes operados e pedimos para classificarem o seu grau de satisfação numa escala numérica de um a dez, correspondendo o valor um a “completamente insatisfeito” e dez a “inteiramente satisfeito”. Agrupámos as respostas como “insatisfeitos” aos valores entre um e cinco, “satisfeitos” aos valores entre seis e oito, e “muito satisfeitos”, aos valores nove e dez.
Temos os resultados de 827 casos, cuja distribuição pelo grau de satisfação foi a seguinte: 47% classificaram a sua satisfação com dez, 18% com nove, 18% com oito e 7% abaixo de seis. (Gráfico 1)
Quando analisamos a satisfação em função das diferentes técnicas, observamos que entre a IC e a PSI conseguimos uma diminuição de 25% dos doentes insatisfeitos (de 8 para 6%). Com a cirurgia robótica, é importante considerar que ainda temos uma série avaliada curta (51 casos face aos 277 IC e 499 PSI), no entanto, não temos ainda classificações abaixo de 7, portanto, até ao momento, temos zero insatisfeitos. Acreditamos que eles surgirão, com a evolução da série. Observamos ainda que a percentagem dos “muito satisfeitos” é inferior na comparação com a IC e a PSI (respetivamente 63% versus 65% e 66%). (Gráfico 2)
O Gráfico 3 representa a satisfação média por tipologia de cirurgia, observando-se um incremento de 0,23 na satisfação a favor da cirurgia robótica, em relação à técnica PSI.
Trata-se de uma avaliação meramente descritiva, sem tratamento estatístico ou rigor científico e de uma série (robótica) ainda limitada, mas com resultados muito promissores, com níveis de satisfação perto dos valores da artroplastia da anca, o que nos deixa muito satisfeitos e motivados para seguir esta caminho.
De salientar, e porque é uma das principais e mais graves causas de insatisfação, a taxa de infeção da nossa série registada para o seu total (1020 joelhos operados com prótese) é inferior a 0,4%, taxa que ombreia com qualquer centro a nível mundial e nos descansa, a nós e aos doentes, pois o impacto de uma infeção de uma prótese é dramático do ponto de vista clínico, social e económico.
Do ponto de vista científico, a análise dos nossos dados e a partilha da nossa experiência, originou já mais de uma dezena de artigos publicados em revistas internacionais indexadas e dezenas de comunicações em congressos nacionais e internacionais.
Tudo isto resulta de um trabalho em equipa multidisciplinar, em formato de “serviço”, que tem por objetivo uma permanente análise dos resultados, conduzindo de forma estruturada e sistematizada a atividade do GO HPA, cuja resposta é proporcionar ao doente as condições mais favoráveis, para que o seu resultado funcional e de qualidade de vida seja o melhor possível.